“Clara de nome, mais clara de vida e claríssima de
virtudes!”
Sem dúvida ela é uma das
santas mais amadas; nasceu em 1193 e morreu em 1253, contemporânea de São
Francisco. Sua vida mostra-nos o quanto a Igreja deve a mulheres corajosas e
ricas na fé como ela, que fizeram a renovação da Igreja numa época difícil,
onde a heresia cátara imperava. Havia luxo e pecado na vida de muitos filhos da
Igreja; Francisco e Clara apresentaram o antídoto a essa triste moléstia
espiritual.
Tomás de Celano apresenta
uma biografia segura da Santa, bem como os autos do processo de canonização
promovido Papa Alexandre IV (1254-1261), apenas dois anos após a morte de Santa
Clara.
Clara pertencia a uma
família aristocrática e rica. Renunciou à nobreza e à riqueza para viver pobre
e humilde, adotando a forma de vida de Francisco de Assis. Seus pais queriam
que ela se casasse com algum jovem da nobreza, mas Clara, aos 18 anos, com um
gesto audaz, decide seguir a Cristo, e pela admiração por Francisco, deixou a
casa paterna e, em companhia de uma amiga sua, Bona di Guelfuccio, uniu-se
secretamente aos frades menores junto da pequena igreja da Porciúncula, na
tarde do Domingo de Ramos de 1211: enquanto seus companheiros tinham nas mãos
tochas acesas, Francisco cortou-lhe os cabelos e Clara vestiu o hábito
penitencial. A partir daquele momento, tornava-se “virgem esposa de Cristo”,
humilde e pobre, e a Ele totalmente se consagrava. Milhares de mulheres ao
longo da história seguiram o exemplo de Clara: Esposa bela e pura de Cristo.
Santa Clara mostra sua
espiritualidade na Carta que enviou a Santa Inês de Praga, filha do rei da
Bohemia, que queria seguir seus passos; ela fala de Cristo, seu amado esposo,
com expressões nupciais comoventes:
“Amando-o, és casta,
tocando-o, serás mais pura, deixando-se possuir por ele, és virgem. Seu poder é
mais forte, sua generosidade, mais elevada, seu aspecto, mais belo, o amor mais
suave e toda graça. Agora tu estás acolhida em seu abraço, que ornou teu peito
com pedras preciosas… e te coroou com uma coroa de ouro gravada com o selo da
santidade” (Lettera prima: FF, 2862).
E convida sua amiga de
Praga a se olhar no “espelho da perfeição de toda virtude”, que é o próprio
Senhor. Escreve: “Feliz certamente aquela a quem se lhe concede gozar desta
sagrada união, para aderir com o profundo do coração [a Cristo], àquele cuja
beleza admiram incessantemente todas as beatas multidões dos céus, cujo afeto
apaixona, cuja contemplação restaura, cuja benignidade sacia, cuja suavidade
preenche, cuja recordação resplandece suavemente, a cujo perfume os mortos
voltarão à vida e cuja visão gloriosa fará bem-aventurados todos os cidadãos da
Jerusalém celeste. E dado que ele é esplendor da glória, candura da luz eterna
e espelho sem mancha, olhe cada dia para este espelho, ó rainha esposa de Jesus
Cristo, e perscruta nele continuamente teu rosto, para que possas te adornar
assim toda por dentro e por fora… neste espelho resplandecem a bem-aventurada
pobreza, a santa humildade e a inefável caridade” (Quarta carta: FF,
2901-2903).
Leia também: Oração de
Santa Clara: Minha alma, Vossa Morada
O Papa Alexandre IV, na
Canonização da Santa em 1255, apenas dois anos após sua morte, disse: “Quão
vívida é a força desta luz e quão forte é a claridade desta fonte luminosa. Na
verdade, esta luz estava fechada no esconderijo da vida de clausura, e fora
irradiava esplendores luminosos; recolhia-se em um pequeno monastério, e fora
se expandia por todo vasto mundo. Guardava-se dentro e se difundia fora. Clara,
de fato, se escondia; mas sua vida se revelava a todos. Clara calava, mas sua
fama gritava” (FF, 3284).
Santa Clara compôs uma
Bênção para as Clarissas: “Bendigo-vos em minha vida e depois de minha morte,
como posso e mais de quanto posso, com todas as bênçãos com as que o Pai de
misericórdias abençoa e abençoará no céu e na terra seus filhos e filhas, e com
as quais um pai e uma mãe espiritual abençoa e abençoará seus filhos e filhas
espirituais. Amém” (FF, 2856).
Esta santa viveu 40 anos
em um pequeno mosteiro ao lado da igrejinha de São Damião, na pobreza, e sob a
Providência divina, sem nada possuir. Foi a primeira mulher a escrever uma
Regra às consagradas. Recebeu do Papa Inocêncio III o chamado Privilegium
Paupertatis (Privilégio da pobreza; cf. FF, 3279), que garantia a Clara e suas
companheiras de São Damião não possuir nenhuma propriedade material. Ela viveu
virtudes heroicas: a humildade, piedade, penitência e caridade. Bento XVI disse
“Clara de Assis foi um verdadeiro clarão luminoso que brilhou na Idade Média”.
Seu amor a Eucaristia era
exponencial. Só com a exposição do Santíssimo Sacramento, afastou os soldados
mercenários sarracenos (muçulmanos), que estavam a ponto de agredir o convento
de São Damião e de devastar a cidade de Assis. Foi um facho de luz a iluminar a
Igreja.
Prof. Felipe Aquino
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